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Sunday, August 15, 2004

mais uma das eleições ...

Congresso
Líderes criticam decretos que restringem liberdade de imprensa

Oposição vê escalada "fascista" no governo
Maria Lúcia Delgado De Brasília

Foto: Alan Marques/Folha Imagem



Tasso: "Estão vasculhando de maneira ilegal a vida de todo mundo nesse país"


Esquentou o clima político no Senado ontem e os oposicionistas elevaram o tom de críticas ao governo do PT. Depois de uma semana de crise política provocada pelos questionamentos sobre a atuação da CPI do Banestado, parlamentares do PDT, PSDB e PFL ocuparam a tribuna para criticar o que classificam de "escalada autoritária e fascista" do governo diante das últimas notícias de que o Executivo desenvolve estudos de projetos e decretos para restringir a liberdade de imprensa, controlar produções culturais e dar excessivo poder ao Estado para acessar sigilos bancário, fiscal e telefônico.

Para tucanos e pefelistas, parlamentares do PT terão que explicar as insinuações de que as investigações da comissão parlamentar comprometeriam políticos das duas legendas.

O jornal "Folha de S.Paulo" publicou conteúdo de um diálogo gravado entre o relator da CPI, José Mentor, e parlamentares do PT, em que o petista diz ter um "caminhão" de documentos e sinaliza que era preciso deter a convocação do advogado Roberto Teixeira, que é "compadre de Lula" e seu amigo. O deputado Eduardo Valverde (PT-RO), que conversava com Mentor, admitiu que há documentos que comprometem políticos do PSDB e do PFL.

A oposição acha que o PT está montando uma "base de dados" com informações sobre a vida de políticos, empresários e jornalistas, além de aparelhar o Estado para permanecer no poder. A CPI do Banestado não é o único foco de crise. Além de acusar o governo de bisbilhotice com intenções eleitorais, os oposicionistas criticaram as medidas que o governo estuda colocar em prática para cercear a liberdade de imprensa e de expressão de uma forma geral, com o Conselho de Jornalismo, a Agência Nacional de Cinema, a mordaça ao Ministério Público e a servidores, e o decreto que amplia os poderes do Estado de obter sigilos bancários, fiscais e telefônicos quando quebrados pela Justiça.

"Estão vasculhando de maneira ilegal a vida de todo mundo nesse país", disse o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), o mais exaltado ontem no plenário. O tucano, com o dedo em riste, disse ao senador Tião Viana (PT-AC) que o projeto das Parcerias Público-Privadas (PPPs), do jeito que está, é "uma roubalheira que permitirá o Delúbio (tesoureiro do PT) deitar e rolar".

Houve também uma discussão de Tasso Jereissati com o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). Os ânimos ficaram acirrados após o discurso do senador Jefferson Péres (PDT-AM), que se disse preocupado com "o ranço autoritário desse governo". "Como mudaram os valores éticos do PT. O que antes era insuportável, agora é corriqueiro", disse Jefferson Péres, que voltou a cobrar explicações dos presidentes do Banco Central, Henrique Meirelles, e do Banco do Brasil, Cássio Casseb, sobre suas movimentações bancárias.

O discurso do senador Mercadante aumentou a ira do PSDB. Ele disse que está disposto a negociar o projeto das PPPs, mas acusou a oposição de postergar a votação. Tasso reagiu. Disse que a oposição não é contra o PPP. "A tentativa de imputar falta de patriotismo a quem quer discutir o assunto, de maneira que aquilo se torne verdade técnica eminentemente fascista, é assustador e está na hora de começarmos a reagir de maneira forte aqui nessa Casa democraticamente contra esse estado de coisas", disse o tucano.

A estratégia da oposição já foi traçada em reuniões entre PSDB e PFL. Eles avaliam que a única forma de resistir ao governo, forçá-lo a negociar e barrar ações autoritárias é segurar a aprovação do projeto da PPP. Por isso, vão insistir na realização de audiências públicas na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. O PT reagiu às críticas. "Ninguém nos quadros do PT apoiou a ditadura. Tem gente que está fazendo essas críticas ao partido e não pode dizer o mesmo", alfinetou o deputado Paulo Bernardo (PT-PR).VALOR 130804

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