"...ladrão, ladrão, ladrão ...."
do Blog do Josias
José Dirceu, como se sabe, foi um líder estudantil buliçoso. Junto com Vladimir Palmeira, fez a cabeça da moçada de sua época. Em “Abaixo a Ditadura”, livro em que revela os bastidores do movimento estudantil de 68, Dirceu anotou:
“Tanto eu como o Vladimir representávamos a postura anti-establishment, anti-ordem, até no modo de vestir, de falar, de nos comportar. Simbolizávamos a irreverência, a rebeldia (...).”
Nesta quarta-feira, Dirceu provou do próprio veneno. Convidado a falar sobre a “Mídia e a Crise”, na PUC de Minas Gerais, o ex-chefão da Casa Civil topou com uma estudantada à Dirceu.
Num auditório dimensionado para acomodar 450 pessoas, aglomeraram-se 700 estudantes. Muitos deles adornaram os rostos com narizes de palhaço. Dirceu mal começara a falar e a audiência apressou-se em exibir os seus pendores “anti-establishment”.
Ouviu-se um coro de vaias. Ergueram-se cartazes improvisados em folhas de papel ofício. Estampavam dizeres hostis. Coisas assim: "Cretino", "Cadeia", "Pega Ladrão"... Dirceu reagiu com fair-play, informa o repórter Paulo Peixoto.
"Estou acostumado com o debate democrático, com as vaias e com a discordância", viu-se compelido a dizer, já na sua primeira intervenção, sob apupos. Em dado momento, o ex-ministro afirmou: "Se tem uma coisa que até os adversários reconhecem, inclusive os do PSDB, é que eu sou uma pessoa honesta".
Seguiu-se um coro que não deixou dúvidas quanto ao sentimento “anti-ordem” que movia a platéia: "Ladrão, ladrão, ladrão". Ao final do encontro, que durou quase uma hora, um grupo de estudantes subiu o timbre: “Ei, Dirceu, vai tomar no cu”, repetiram, aos gritos. Abespinhado, Dirceu qualificou os manifestantes de "minoria autoritária". Chamou-os de “tucanos”.
Depois, em entrevista, considerou “normal” ter sido brindado com o coro de "ladrão". "Aliás”, disse ele, “não é só com coro de ladrão, agora eles me mandaram tomar no cu. Espero que vocês publiquem isso, porque mostra o nível de quem está aqui. É uma minoria. O nível é esse. Quer dizer, pessoas autoritárias que não aceitam o debate democrático, que não escutam".
Enquanto Dirceu concedia a entrevista, um estudante arremessou, da platéia, um nariz de palhaço de plástico. Tinha a mão certeira. O objeto atingiu o rosto de Dirceu. O ex-ministro deve ter deixado o campus da PUC mineira com uma incômoda certeza a martelar-lhe a cabeça: já não simboliza mais “a irreverência” estudantil. Tornou-se alvo dela.
Escrito por Josias de Souza às 00h06
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