"...tempo, tempo, tempo, mano velho..."

"...fique comigo, seja legal, conto contigo pela madrugada ..."

Thursday, May 11, 2006

"...ladrão, ladrão, ladrão ...."

do Blog do Josias



José Dirceu, como se sabe, foi um líder estudantil buliçoso. Junto com Vladimir Palmeira, fez a cabeça da moçada de sua época. Em “Abaixo a Ditadura”, livro em que revela os bastidores do movimento estudantil de 68, Dirceu anotou:

“Tanto eu como o Vladimir representávamos a postura anti-establishment, anti-ordem, até no modo de vestir, de falar, de nos comportar. Simbolizávamos a irreverência, a rebeldia (...).”

Nesta quarta-feira, Dirceu provou do próprio veneno. Convidado a falar sobre a “Mídia e a Crise”, na PUC de Minas Gerais, o ex-chefão da Casa Civil topou com uma estudantada à Dirceu.

Num auditório dimensionado para acomodar 450 pessoas, aglomeraram-se 700 estudantes. Muitos deles adornaram os rostos com narizes de palhaço. Dirceu mal começara a falar e a audiência apressou-se em exibir os seus pendores “anti-establishment”.

Ouviu-se um coro de vaias. Ergueram-se cartazes improvisados em folhas de papel ofício. Estampavam dizeres hostis. Coisas assim: "Cretino", "Cadeia", "Pega Ladrão"... Dirceu reagiu com fair-play, informa o repórter Paulo Peixoto.

"Estou acostumado com o debate democrático, com as vaias e com a discordância", viu-se compelido a dizer, já na sua primeira intervenção, sob apupos. Em dado momento, o ex-ministro afirmou: "Se tem uma coisa que até os adversários reconhecem, inclusive os do PSDB, é que eu sou uma pessoa honesta".

Seguiu-se um coro que não deixou dúvidas quanto ao sentimento “anti-ordem” que movia a platéia: "Ladrão, ladrão, ladrão". Ao final do encontro, que durou quase uma hora, um grupo de estudantes subiu o timbre: “Ei, Dirceu, vai tomar no cu”, repetiram, aos gritos. Abespinhado, Dirceu qualificou os manifestantes de "minoria autoritária". Chamou-os de “tucanos”.

Depois, em entrevista, considerou “normal” ter sido brindado com o coro de "ladrão". "Aliás”, disse ele, “não é só com coro de ladrão, agora eles me mandaram tomar no cu. Espero que vocês publiquem isso, porque mostra o nível de quem está aqui. É uma minoria. O nível é esse. Quer dizer, pessoas autoritárias que não aceitam o debate democrático, que não escutam".

Enquanto Dirceu concedia a entrevista, um estudante arremessou, da platéia, um nariz de palhaço de plástico. Tinha a mão certeira. O objeto atingiu o rosto de Dirceu. O ex-ministro deve ter deixado o campus da PUC mineira com uma incômoda certeza a martelar-lhe a cabeça: já não simboliza mais “a irreverência” estudantil. Tornou-se alvo dela.

Escrito por Josias de Souza às 00h06

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