JK
Segundo as moinhas fontes, bonzinho foi o comentário do Rodrigo....
Quem Foi JK?
Rodrigo Constantino
"Vem aí a nova minissérie da Rede Globo, sobre o ex-presidente JK. Somente pelas chamadas nos intervalos, fica claro que o viés será bastante pró Juscelino, pintando um quadro lindo sobre seu governo e sua pessoa. Depois do que fizeram com a imagem da comunista Olga, espero qualquer coisa! Melhor então resgatar logo alguns fatos. Quem foi JK?
Juscelino iniciava seu governo numa fase de grande conturbação, com sua posse sendo questionada pela pequena margem de ganho e um sistema de apoio instável. Tinha plena consciência de que a essência da democracia é a administração de conflitos, e revelou-se um exímio equilibrista político. Eis seu grande "mérito": um político nato!
JK revelava um toque de antiamericanismo, alegando a indiferença com que fora recebido seu plano de desenvolvimento e a falta de sensibilidade de Washington às aspirações latino americanas. Enxergava atitudes conspiratórias nas organizações internacionais, particularmente no FMI, supostamente interessado na "aniquilação do Brasil" e em manter-nos na situação colonial de fornecedores de matérias-primas. Esse discurso culminou no rompimento com o FMI no fim de seu governo, em discurso extremamente nacionalista ao lado de Luís Carlos Prestes. Podia ter ficado sem essa mancha em sua história.
No começo de seu governo, o câmbio era uma variável chave em questão. Roberto Campos e outros economistas mais bem preparados tentaram convencer Juscelino de que uma reforma cambial se fazia necessária, pondo fim no sistema duplo de câmbios, que resultava num rombo da balança de pagamentos. Representava uma taxação indireta para exportadores subsidiando o consumo de produtos importados, como petróleo e papel. Mas JK acreditava no mito que "desvalorização derruba governos", e não levou adiante esta importante reforma, que poderia ter colocado o Brasil em posição similar aos Tigres Asiáticos na década de 80. Logo, JK defendeu um modelo errado de taxas de câmbio artificialmente sobrevalorizadas. O país pagou um elevado preço por tal erro.
Em termos de gastos públicos, JK foi altamente irresponsável. O projeto faraônico de Brasília é o melhor exemplo, tendo custado cerca de 3% do PIB e sem nenhuma grande justificativa racional por trás. Não se tendo tornado nem um pólo industrial, nem um pólo comercial auto-sustentável, Brasília viria a transformar-se ao longo dos anos numa inexorável fonte de déficit, sempre cobertos pelo Tesouro.
A implantação da indústria automobilística era a "menina dos olhos" de JK. Entretanto, tocou este projeto com incrível pressa e irresponsabilidade. O índice de nacionalização chegou a 90%, que num mercado ainda restrito, impediu os benefícios de uma economia de escala. Além disso, partiu com mesma velocidade e intensidade para produção de automóveis de passageiros e caminhões e tratores, que deveriam ter aguardado uma indústria já mais avançada dos primeiros, que acarretaria um barateamento de componentes. Isso tornaria menos dispendiosa a fabricação de tratores e veículos utilitários, fundamentais para o desenvolvimento industrial competitivo do país. Demonstra bem o "desenvolvimento" a qualquer custo de JK.
As conseqüências desse "desenvolvimento às caneladas" de JK começaram a cobrar seu preço, com a inflação saindo de 7% em todo o ano de 1957 para 9% apenas no primeiro semestre de 1958. As perspectivas do balanço de pagamentos eram sombrias, com rombos crescentes. Juscelino se persuadira, então, de que a mobilização nacionalista do país reconquistar-lhe-ia espaço político. Assim, rompeu com o FMI, com intensa mobilização popular, que lhe trouxe a curto prazo grandes dividendos políticos. No seu ver, ele tinha salvo o Plano de Metas. Na realidade, ele tinha apenas decretado a permanência de um modelo errado e insustentável de desenvolvimento, condenando o país à bancarrota cambial. Na prática, portanto, as teses de Juscelino eram uma subvenção ao consumo, que subtraía recursos que poderiam ser destinados ao investimento de fato.
Apesar de tantas evidências históricas desses erros cometidos por JK, nada impediu que ele se transformasse num mito nacional. Isso não é tão difícil de entender. Qualquer governo consegue apresentar números aparentemente interessantes por um curto período de tempo, deixando a conta a pagar para seu sucessor. JK foi um exemplo disso. Claro que tinha várias qualidades, e sua ideologia "futurível" transformou o desenvolvimentismo numa fonte de otimismo psicológico para o país. Mas o fato é que JK colheu os dividendos do que pareceu um tempo áureo para o Brasil, mas deixou um enorme rombo como herança. Como diz Milton Friedman, "não existe almoço grátis". Não se faz, de forma prudente, 50 anos em 5, da mesma forma que não se faz um bebê em um mês engravidando 9 mulheres diferentes: certas coisas simplesmente levam tempo. Infelizmente, a visão dos leigos é míope, e alcança somente o imediato.
Com o conhecimento dos fatos, fica mais difícil idolatrar tanto assim JK, o "mito" da política nacional. Mas com uma dose de manipulação dos autores, e forte pitada de ignorância popular, nada é impossível. Tornam a tarefa do iconoclasta algo um tanto hercúleo! "
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